quinta-feira, 15 de novembro de 2007

porque não te calas?


O "porque não te calas?" irritado, dirigido a Hugo Chavez por essa excrescência histórica que se autodesigna rei de Espanha, tem as suas raízes profundas muito longe das apreciações chavistas sobre o senhor Aznar. Chavez irrita os líderes capitalistas porque representa para eles um mundo ao contrário. Tal como eles, o venezuelano foi eleito democraticamente, tal como eles pretende democraticamente monopolizar a comunicação social, tal como eles quer democraticamente controlar a orientação ideológica do sistema de ensino e até, pasme-se, tal como eles Chavez utiliza a religião como ópio para o povo.
E não se cala. Bush é o devil e o
drunk donkey, os bispos e cardeais seriam chicoteados por Cristo, Jesus foi o primeiro socialista: ele dividiu o pão e o vinho, Judas foi o primeiro capitalista, vendeu Jesus por trinta moedas. Não se cala e é por isso que irrita profundamente sua majestade castelhana, e todos os líderes verdadeiramente democráticos do ocidente que, por acção ou omissão, foram absolutamente coniventes com o golpe de estado que em 2002 alijou temporariamente Chavez do poder. E seria bom que esse golpe servisse de reflexão para os que, deste lado da esquerda, acreditam piamente nas instituições democráticas, cuja existência os capitalistas permitem desde que, pois claro, sejam eles a ganhar.
Sem presunção de vidente, creio que a Venezuela e a revolução bolivariana serão, salvas as devidas proporções, a União Soviética do século XXI, querendo com isto conjecturar que será pelos sucessos e insucessos, pelos avanços e recuos da revolução venezuelana - e suas réplicas no América Latina - que todos quantos lutam por alternativas ao capitalismo serão questionados nos tempos mais próximos.
É por isso que, mais importante que discutir se Chavez se cala ou não, o apoio internacionalista ao povo da Venezuela é fundamental para que, aqui sim, não se cale a voz das massas, e a revolução não se transforme em mais um desastre em nome do socialismo, que alimente a hegemonia capitalista mundial para mais uma geração."
João Delgado em esquerda.net

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