segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Chavez perde, Putin ganha


Chavéz perde, Putin ganha - eis um modo expedito de resumir os votos deste fim de semana. E também de, com a verdade, esconder os processos reais que as urnas exprimiram. Na Venezuela, Chavéz perdeu, mas a democracia reforçou-se. Mal foram conhecidos os resultados, o líder venezuelano felicitou os adversários, afirmou a confiança nas instituições e reconheceu ter falhado "o salto político para a revolução". Quem dizia não ser a Venezuela um país com um regime democrático, onde as escolhas políticas fundamentais dependem da vontade popular, tem agora vasta matéria de reflexão. E Chavéz também. Nem sempre querer andar depressa é ir longe. Nem sempre a eficácia da concentração de poder pretendida tem o apoio de quantos apoiam a revolução. O chavismo atravessará dificuldades com que não contaria. Mas pode ter aprendido.
Na Rússia, Putin ganhou, mas a democracia estreitou-se. Já aqui escrevi sobre Putin e o seu país, num texto a contracorrente do pensamento dominante na Europa. Mantenho tudo o que então escrevi e acrescento:
Putin é maioritário entre o seu povo - o que só torna mais inaceitável a intensa manipulação dos contextos eleitorais e do próprio acto;
Putin joga um papel importante, e genericamente positivo, na cena mundial - razão pela qual o que possa diminuir a sua legitimidade, só prejudica;
Putin impôs a política sobre a selvajaria económica do período de Ieltsin - e por isso mesmo é tão perigosa a diminuição de pluralidade na sociedade russa. O capitalismo de Estado pode organizar-se de muitos modos, mas alguns deles são particularmente perigosos em contexto de forte hegemonia de poder.

Miguel Portas - sem muros

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