quinta-feira, 17 de setembro de 2009

...werther... goethe...

"O coração dos apaixonados é assim: cavo, cavo, cavo. Mas a infeliz humanidade só sabe trabalhar, trabalhar, trabalhar. E, se arreganha umas horas livres, tudo faz para as ver passar rapidamente. Tristes homens que se deixam governar por bolos e rebuçados. Morte aos homens sensatos e moderados. Morte! Para cheirar a terra e sentir a água é preciso mais do que ser. É preciso amar os pássaros, as árvores e o fogo. A verdadeira pureza da natureza está sufocada pelas leis. É urgente aprender a cheirar o vento. E derrubar os diques que desviam as águas do seu curso natural. Quanto à terra: deve ser cavada com as unhas. Para a sentir mais perto de nós. Para sermos vida dentro dela. A água dos mares também deve passar pela nossa boca em grogolejos. As partículas de sal apegam-se à língua e aí permanecem até sabermos de cor o sabor das ondas. O vento tem de ser sentido com as palmas das mãos viradas para o alto. As fontes naturais, aquelas que escorrem pelas montanhas abaixo, têm de ser meditadas. E, de cada vez que olhamos para o chão, devemos olhar em seguida para o céu para sentir as nuvens. E abarcar o azul escondido. Só assim os corações dos apaixonados estarão preparados para reagir ao sabor dos tremores de mãos. E dos suores. E dos vendavais de sangue a estrebuchar nas faces enrubescidas. Os homens sensatos arranjam maneiras maquiavélicas de disfarçar os ardores do coração. Os loucos gozam dos prazeres sensuais das maças do rosto coradas e dos suores do corpo escondidos. Porque a poesia é dizer muito em poucas palavras. Encontrar o núcleo dos átomos e conseguir exprimi-lo. Deixar a paixão atingir a insanidade: é isto viver. A alma para ser sensível tem de abarcar com um único olhar todos os paraísos do mundo. Mas as gentes acomodaram-se a incomodarem-se mutuamente. Os homens são suficientemente invejosos para, infelizes, tentarem destruir a felicidade alheia. Se a felicidade exterior não for obra nossa, muito dificilmente a conseguimos encarar e suportar. Há ciúmes, há vontades perversas. As gentes querem o que os outros possuem. Mas, no fundo, é sempre com a melhor das intenções.
Werther é um jovem com coração arrebanhado por uma paixão intensa, tempestuosa e infortunada pela graciosa dama Carlota. Mas Carlota já tem o amor prometido a Alberto. Werther começa a sofrer terrivelmente. Porque quem sabe sentir o vento, a terra, o mar e o fogo, sente mil vezes mais os ardores de um amor não correspondido. Pobre Werther, com sensibilidade à flor das têmporas, terá um final trágico: mata-se. Brutalmente. Mata-se e pronto.
Diz-se que Werther é um romance autobiográfico: Goethe, na vida real, ter-se-ia enamorado pela mulher de um amigo. O romance está em forma de diário e é formado por um conjunto de cartas que Werther teria escrito ao seu irmão Guilherme e, em certas alturas, à própria Carlota, contando-lhe as etapas que um coração nobre leva até chegar ao êxtase derradeiro.
A publicação de Werther levou a que um número alarmante de adolescentes e jovens se suicidassem, utilizando o mesmo método usado pela personagem, vestindo as mesmas roupas e deixando um exemplar da obra no leito da morte. Estes suicídios em massa deixaram de tal forma a Europa arrasada que o livro chegou a ser retirado de circulação."

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