sábado, 30 de outubro de 2010

...o último adeus...

“O Último Adeus” (1830) do escritor conservador (e, como um verdadeiro conservador, trabalhador, consta que escrevia 15 horas por dia!) Honoré de Balzac (1779-1850) é um excelente romance histórico que se lê de uma penada – a edição de bolso da Europa-América tem 80 páginas e um tamanho de letra gigantesco que facilita o devorar da leitura.
Escritor do seu tempo e figura de proa do romantismo francês, Honoré de Balzac oferece-nos neste romance um retrato realista (que tanto caracteriza o romantismo do século XIX) da derrocada de Napoleão e da debandada do seu exército depois da fatídica invasão da Rússia. A prosa chega mesmo a ser chocante pela sua desmesurada crueza:
“O heroísmo destas tropas generosas ia mostrar-se inútil. Os soldados que afluíam em massa às margens do Beresina vinham encontrar, por desgraça, essa imensidão de carros, de caixas, de móveis de toda a espécie, que o exército tivera de abandonar ao efectuar a travessia do rio nos dias 27 e 28 de Novembro [de 1812]. Herdeiros de riquezas inesperadas, esses desgraçados, endurecidos pelo frio, instalavam-se nos bivaques vazios, partiam o material do exército para construírem cabanas, acendiam fogueiras com tudo o que lhes vinha às mãos, despedaçavam os cavalos para se alimentarem das suas entranhas, arrancavam as cortinas ou as capotas dos carros para se cobrirem, e ficavam-se a dormir, em vez de continuarem o caminho e transporem, durante a noite, esse Beresina que uma incrível fatalidade tornara já tão funesto para o exército.
A apatia desses pobres soldados não a podem compreender senão os que se lembram de terem atravessado esses vastos desertos de neve sem poderem beber outra coisa que não fosse a própria neve, sem outra cama além da neve, sem outra perspectiva além do horizonte de neve, sem outro alimento que não fosse a neve ainda ou algumas beterrabas geladas e uns punhados de farinhas ou carne de cavalo. Mortos de fome, de sede, de cansaço e de sono, esses infelizes chegavam à praia onde se lhes deparava madeira, lume, alimentação, inúmeros carros abandonados, bivaques, enfim, toda uma cidade improvisada.” (p. 28/29).
A história trata de um amor impossível, entre o barão Philippe de Sucy e a condessa Stéphanie de Vandières, iniciado no tumulto desumano da guerra e mais tarde reencontrado, embora marcado com as chagas abertas pela mesma. Philippe tenta então resgatar o garnde amor da sua vida das trevas da loucura. Esta nobre e romântica atitude produziu resultados e teve consequências. Vale a pena ler para saber qual foi o preço que o barão de Sucy pagou pelo seu amor incondicional a Stéphanie."

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