terça-feira, 13 de dezembro de 2011

...lost in translation...

Título: Lost In Translation;
Título em Portugal: O Amor É Um Lugar Estranho;
Ano de estreia: 2003;
Género: Drama;
Realização: Sofia Coppola;
Argumento: Sofia Coppola;
Elenco principal: Bill Murray, Scarlett Johansson;
Nota: 9/10.



"Diz um muito "gasto" e conhecido provérbio que "uma imagem vale mais que mil palavras" e essa afirmação encaixa que nem uma luva em Lost In Translation, o aclamado segundo filme da realizadora norte-americana Sofia Coppola. Estreada em 2003, a fita viria a ser um sucesso comercial (tendo em conta a relação do seu orçamento - baixo - com as receitas de bilheteira), a arrecadar um Óscar na categoria de melhor argumento original (sendo nomeado em três outras: melhor filme, melhor realizador, melhor actor principal) e anos mais tarde a figurar no top da década de 2000 para muitos críticos de cinemas.
Lost In Translation parte de uma premissa simples: o encontro de dois estranhos (oriundos dos EUA) em Tóquio, Japão. Bob Harris (Bill Murray) surge na história como um reputado actor de meia-idade que viajou para a capital japonesa para gravar sessões publicitárias. Casado há cerca de 25 anos, a presente condição da união matrimonial pode ser comparada à sua situação psicológica: está visivelmente entediado, deprimido, conformado com uma realidade da qual já conhece todos os ângulos. Charlotte (Scarlett Johansson) é uma jovem que se deslocou para Tóquio na companhia do marido, fotógrafo. No entanto, o seu trabalho acaba por levar a que esta esteja só a maior parte do tempo. Um pouco à semelhança de Bob, é uma pessoa infeliz, perdida e atravessa uma crise existencial. Após alguns encontros e desencontros, os dois conhecem-se no bar do hotel em que estão hospedados. Unidos pelo mesmo estado de solidão e alienação, por um problema de insónias e por um choque cultural, vão desenvolvendo uma amizade muito singular ao longo dos dias...
Voltando à perspectiva da frase com que a crítica foi iniciada, o filme é uma autêntica "fotografia em movimento" e uma de grande beleza, tendo como pano de fundo uma paisagem urbana e moderna japonesa. Coppola consegue transmitir aquele inefável fascínio pelo mais vulgar do quotidiano, algo tantas vezes procurado e tão poucas vezes concretizado. Esse encanto "atinge" e sensibiliza o espectador que o consegue captar, transportando-o não só mentalmente, mas também dando a ilusão de uma viagem real, física. Sem qualquer margem para dúvida, Lost In Translation vive essencialmente da sua realização soberba. Talvez fosse suficiente para captar as tais temáticas de solidão, crises existenciais, alienação e choque cultural (já referidas) sem recurso a qualquer fala, uma vez que o estado de espírito dos protagonistas aparece representado num meio e num tempo histórico que para eles direcciona. De facto, num mundo do século XXI cada vez mais acelerado, distorcido, confuso, dependente da tecnologia e em que o aumento generalizado da qualidade de vida abriu espaço para reflectir sobre outros tormentos, Bob e Charlotte são dois exemplos perfeitos, duas vítimas "sufocadas" pelo bem-estar da sociedade em que estão inseridas.
Apesar da força e do peso da fotografia neste segundo trabalho de Sofia Coppola, também o argumento é de grande qualidade. Guiado por uma narrativa lenta (que será um contratempo ao espectador com menor capacidade de atenção e somente familiar com a estrutura típica dos grandes blockbusters de Hollywood), mantém-se interessante do primeiro ao último minuto, pela riqueza das personagens, pela tensão e atracção entre elas existentes e por diálogos inteligentes, coerentes e realistas. Não se cai no habitual cliché de ter os protagonistas em cenas apaixonadas pouco tempo após se cruzarem pela primeira vez e talvez por aí a derradeira cena do filme se torne ainda mais memorável. Num outro plano, a existência de subtis momentos de comédia numa atmosfera envolvente caracterizada pelo silêncio e desfocada como um sonho induzido por hipnotismo é fulcral para transparecer uma impressão de melancolia, de uma tímida e complexa alegria de estar triste...
Explorando o significado do título "Lost In Translation", desvenda-se que este é uma expressão americana que simboliza a faceta cultural que se perde ao traduzir uma língua para outra de um país com costumes diferentes. É por aí que, mesmo na presença de tradutores, os protagonistas se sentem incompreendidos. No filme, a expressão tem duplo significado, aludindo metaforicamente para o estado das vidas de Bob e Charlotte. Não deixa de ser irónico que este choque cultural ocorra num mundo moderno, supostamente globalizado, sendo provável que seja mais um sentido escondido por detrás das cortinas: as personagens não só estão desajustadas à cultura japonesa em específico como também o estão perante o período histórico-social circundante. Outro aspecto a destacar pela positiva são as actuações. Num registo low key (discreto) que parece o mais adequado à fita cinematográfica em análise, Bill Murray tem (de acordo com os votantes dos Academy Awards) a sua única performance merecedora de uma nomeação para um Óscar e Scarlett Johansson, na mais bem recebida actuação da sua carreira, expressa uma maturidade invulgar para alguém que não passava de uma miúda de 18 anos aquando das filmagens de Lost In Translation (a personagem Charlotte tem 25 anos de idade). Consegue uma nomeação para os Golden Globes de 2004 na categoria de melhor actriz principal numa comédia ou musical (no mesmo ano foi nomeada para melhor actriz principal num drama pelo seu desempenho em Girl With A Pearl Earring - Rapariga Com Brinco De Pérola, em português), apesar da obra não ser de todo um musical e da comédia não ser o género prevalecente.
Por último, mas não menos importante, uma palavra à banda sonora, maioritariamente constituída por música alternativa, que se enquadra em pleno no filme e o valoriza no espectro da audição. A canção "Sometimes" dos lendários My Bloody Valentine será talvez o ponto alto, estando directamente ligada à sensação de sonho e perplexidade, uma constante ao longo da fita.Até hoje, Lost In Translation permanece como a magnum opus de Sofia Coppola e será certamente uma daquelas obras que perdurará no tempo pelo retrato fiel que faz ao contexto histórico-social do qual é proveniente: a sociedade urbana de um país desenvolvido na primeira década do século XXI. " Francisco Silveira - daqui

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

...paralaxe...

...à semelhança da Pusinko a aliança no dedo não foi com toda a certeza o que me fez não conseguir desviar o olhar...

... que me desculpem os carpinteira mas alguém aqui tem de impor alguma paridade em relação ao mafia da cova...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

domingo, 16 de outubro de 2011

...machado de tinta...

Acordava-o todos os dias a velha história de ir comprar cigarros ao quiosque da esquina e nunca mais voltar, aliás, não mais voltar. Todas as suas histórias ficam na auréola da esquina, aquém do primeiro acto da sua inconsciência, nunca foi porque nunca soube que para lá não haveria nem madrugada nem mudança de vento…
Nunca entendeu a raiva que ela lhe tem, entender tornava-se algo muito, muito difícil, para além da primeira sombra da sua inconsciência. A raiva, o único sinal da loucura, irrompia nela nos seus detalhes mais quotidianos. A raiva até pode ser algo mais do que isto, ele nunca alterava, aliás, não alterava, o tom das palavras para estancar a ferocidade da estúrdia.
- O nosso tempo não se esgotou porque tu já não existes! sozinho, noite atrás de noite, não tenho problemas com o eco da tua autoridade! Afinal sou o teu marido! Sacia toda a tua raiva no nastro do meu lençol. Sinto que não te pertenço, nem consolo essa tua raiva.
Desaguava todos os dias na penúltima paragem. Percorria, todos os dias, a pé, e sem esforço, os restantes 3 km que o separavam da esquadra onde todos os dias faz serviço. O 82, finda, todos os dias a sua linha, no jardim das oliveiras, mesmo em frente à esquadra… saía sempre na anterior porque nunca soube o que estava para lá. Atormentava-se todas as viagens com a velha história de ir comprar cigarros ao quiosque da esquina e nunca mais voltar, aliás, não mais voltar.
Nunca foi uma compulsão.
- Carrego sempre o teu livro a todos os sítios que vou… 186 páginas… uma única palavra nas 186 páginas… 74000 vezes repetida…
coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros, coentros,… Todas as noites leio de forma aleatória algumas páginas do seu livro,  uma autobiografia da catástrofe.
- Gostava de discutir consigo alguns dos parágrafos. Mas estou aqui para o interrogar! Um jovem escritor! Apanhado a roubar cobre! Um ladrão de cobre! Houve alguma alteração do primeiro para o segundo capítulo pelo facto de ter viajado de nova Iorque para Amesterdão? A mim… Apeteceu-me beber um copo de água na transição… diz aqui no relatório, que o roubo do cobre lhe deu um uma especial sensação de prazer, não foi uma compulsão ou uma necessidade… diz aqui no relatório que aquele cobre o libertou do lugar da raiva… diz aqui no relatório que uma afasia hereditária o impediu de pronunciar e até soletrar a palavra coentros…
A teimosia dos faróis do 82 não são as luzes do quiosque da esquina… já é demasiado tarde para invocar a tinta do poeta - “ enterrai-me com a minha guitarra”! será antes: ”enterrai-me antes com o meu machado!”... ana monteiro

...o grande inquisidor... leituras...

...tiago capitão...

...eu fui... mão morta em castelo branco...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

,,,recortes e infamias contra la escuela pública,,,

GABRIEL FLORES (Nueva Tribuna)
Madrid vive y sufre desde principios del curso escolar un duro conflicto que enfrenta al profesorado de los institutos de enseñanza secundaria y a la dirección ultraliberal del PP madrileño. Las asambleas de profesores junto a las organizaciones sindicales resisten la ofensiva de la derecha más doctrinaria y reaccionaria. Frente a una Consejería de Educación que dirige con mano de hierro la campaña de cerco, empequeñecimiento y deterioro de la escuela pública, el profesorado se ha empeñado en defender la escuela pública y los derechos y los valores de cohesión social, igualdad de oportunidades para todos los niños y jóvenes y democracia real basada en una ciudadanía formada, informada, crítica y consciente de sus derechos y obligaciones. continua aqui

domingo, 25 de setembro de 2011

...catalunha se despide de las corridas de toros...

...esta férrea e cruel tortura, que condena uma espécie ao peso absurdo de uma sobrevivência, desenlaçada no cravar da farpa, deveria merecer não uma mera medida, mas uma condenação tácita e exigência de que este “espectáculo” seja totalmente banido de toda a face da terra. Até já existem touros mecânicos em que a cobardia e o sadismo podem ser esquentados. Mas quando está em jogo a caça ao voto, há que ser mais comedido e ficar nas meias tintas que apascentam toda a consciência cúmplice...
...em portugal, as  putas da oposição de esquerda pensam assim: 
...proibir é medida impopular pode fazer perigar o voto... como se chama a quem se anda a vender pelos voto? PUTAS !!! ... e puta que os pariu...
ana monteiro

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

...Melville, à l'abordage !...

Les personnages conceptuels créés par l'écrivain américain Herman Melville, né et mort à New York (1819-1891), ont toujours fasciné les philosophes. Son scribe, Bartleby, est devenu, à partir de la puissance d'une formule, le symbole philosophique du refus : « I would prefer not to », « Je préfèrerais ne pas », répète-t-il à l'envi chaque fois qu'on lui demande quelque chose. Sa résistance passive a suscité une cascade de commentaires, de Maurice Blanchot à Gilles Deleuze, en passant par Jacques Derrida ou encore Jacques Rancière. Dans L'Effet Bartleby. Philosophes lecteurs, Gisèle Berkman expose leurs thèses avec méthode, mettant ainsi au jour une certaine constellation de la modernité philosophique française, « pour laquelle la littérature a pu constituer une forme d'épreuve du dehors ».
À en croire le philosophe Olivier Rey, cette épreuve est toujours d'actualité, à la seule différence près que ce n'est pas Bartleby qui l'intéresse, mais Billy Budd. Ce héros, associé, lui, à la question du mal, obséda Melville durant les dernières années de sa vie. Mais aussi Hannah Arendt, qui en fit une lecture politique. Qui est-il ? Un jeune matelot, parfois surnommé Bébé Budd, enrôlé en 1797 comme gabier de misaine à bord du Bellipotent, un navire de guerre britannique. Son innocente beauté n'empêche pas le mal de s'abattre sur lui ; une « vertu se dégageait de lui, qui adoucissait les plus aigres », promettait pourtant le romancier au début de sa longue nouvelle… Laquelle progresse inexorablement vers la mise à mort du Beau Marin, accusé mensongèrement de mutinerie par son semblable, son supérieur, le capitaine d'armes Claggart, qui le hait et veut lui faire la peau. Traquant dans Le Testament de Melville. Penser le bien et le mal avec Billy Budd, le « phénomène moral » qui traverse le roman, cette intenable contradiction entre la « loi du coeur » et l'« ordre social », Olivier Rey en résume ainsi les enjeux : « Accepter le monde, malgré le mal, ou lui résister, à cause du mal ? » L'auteur n'élude pas pour autant la dimension esthétique de l'oeuvre, rappelant au contraire que la beauté de Billy Budd, trop souvent réduite à « la simple extériorisation de qualités morales », doit impérativement garder son mystère. La tendance s'affirme très nettement : « La Melvillie est plus que jamais une contrée à visiter. »
Juliette Cerf aqui

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

...conta-me como foi...

Uma das chaves da nossa liberdade foi aquele turismo dos anos sessenta. Ele introduziu em Portugal novas formas de viver, amar e viajar. Havia francesas que iam à praia de bicicleta, levavam no cesto do guiador um livro de Sartre, e de noite mostravam a uns pescadores de aspecto rude e pelo encrespado nas canelas, que fazer amor não era o mesmo que devorar ferozmente um grelhado com a fome atrasada, mas uma prática lenta e harmoniosa cheia de imaginação. Sobre a areia das praias ainda limpas e desertas as suecas despiam sem maldade os seus esplêndidos corpos à frente da guarda republicana, que claudicava perante a sua inocência insolente. Também por essa altura chegaram os primeiros biquínis, os primeiros descapotáveis, as primeiras bebidas longas nas esplanadas a ouvir música pop ao entardecer. Apareceram igualmente os primeiros colares de sementes sobre a pele queimada, as primeiras noites de jasmim, as primeiras sandálias gregas, as primeiras saias floreadas, que à mercê da brisa do mar deixavam ver enormes pernas bem torneadas com pelagem de pêssego.
Chegaram igualmente a Portugal os primeiros professores de Alemão e anglo-saxónico em ano sabático apaixonados pela nossa cultura popular. E as raparigas estrangeiras obrigaram muitos jovens universitários a entrar pela primeira vez nos museus da capital e monumentos mais significativos, mas para cortejá-las.
Na época o Algarve ainda não estava pulverizado à descrição com cimento armado, ao que acudia um turismo que adorava o sol, e também os nossos monumentos, ruínas e catedrais. (Entre dois, a convivência sempre se estabeleceu pelo nível inferior). Aqueles primeiros turistas estrangeiros eram muito selectos e tiveram que moldar-se a alguns dos nossos costumes grosseiros e atávicos, mas deles uma geração de portugueses aprendeu a desmistificar o sexo, a vestir, a intuir a glória da liberdade e inclusive a passear um copo de bebida na mão pela rua. Mas além da especulação e do mau gosto, o pior foi como se vendeu a nossa costa quase toda, desde o Algarve ao Minho, à excepção de algumas partes.
A partir da sua inexorável degradação também o turismo se foi degradando até pôr-se à mostra este enorme lodaçal de cimento que cobre boa parte da nossa costa. Se ao nível da convivência esta se estabeleceu sempre por baixo, de então para cá a nossa forma de viver marcou esse turismo cada vez mais ruidoso, e só espera de nós que sejamos seus camareiros servis. Enquanto o sol que lhes fomos dando, lhes queima a barriga…
O turismo como industria tem sido alvo duma enorme atenção por parte dos governos, que ficam ávidos na sua promoção, mas este anseio tem-se repercutido negativamente no desenvolvimento de actividades tradicionais como a agricultura, a pesca e o artesanato, que se vêem substituídas por esta indústria que alterou profundamente o carácter da sociedade: Ávidos na promoção os governos desviam recursos sociais para serem investidos em infra-estruturas turísticas, subtraindo mão-de-obra e promovendo o fim da produção agrícola. Concentram os benefícios na comunidade empresarial e oligárquica. Alteram o valor da terra (reservas naturais transformadas em PIN) propiciando a especulação imobiliária. O valor de mudança e uso do solo foram drasticamente alterados, produzindo um grave deterioro meio ambiental, e nalguns casos uma alta concentração espacial que deu lugar à criação de estruturas urbanística infra-utilizadas, que dado o seu carácter sazonal transformam -se em desertos fantasmagóricos, na época baixa. Mais que o turismo pode dizer-se que a construção foi a chave que sustentou o mito de emprego e rendimentos… Pela região alguns responsáveis políticos proclamavam como autenticas Pitonisas de Delfos em transe, milhares de empregos directos e indirectos, mas onde andarão eles? Além do mais as políticas governamentais impuseram um valor comercial a qualquer objecto de arte ou de antiguidade para mercantilizar a cultura, distorcendo até a própria realidade com imagens enganosas. Intimidando com este tipo de discursos genuínos estilos de vida locais, para promover a adulteração dos vínculos morais das comunidades anfitriãs em meras ligações monetários, particularmente nas relações da tradicional hospitalidade. Proporcionando igualmente a ruptura social e a decadência da consciência de classe ao distanciar socialmente e geograficamente as capas mais pobres das classes endinheiradas, ao oferecer uma visão parcial, polarizada e acrítica de outras sociedades.  António Delgado

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

"I love el papa"

A Renova teve uma ideia, digamos, de merda!
Literalmente!
Aproveitando a visita do Papa Bento XVI a Espanha, a Renova lançou um novo modelo de rolos de papel higiénico com as cores da bandeira do Vaticano.
A ideia é que os fiéis atirem os rolos à passagem do Papa, como se fossem serpentinas.
Claro que pedras com as cores do Vaticano tinha sido uma ideia muito melhor, mas enfim…
O objectivo é fazer propaganda à Renova e, mesmo depois do Papa se ir embora, os espanhóis podem continuar a pensar em Bento XVI, sempre que limpem o cu… daqui

...oficina de teatro... teatro das beiras covilhã...

sexta-feira, 22 de julho de 2011

...lucian freud, figurative painter who redefined portraiture, Is dead at 88...

Lucian Freud, whose stark and revealing paintings of friends and intimates, splayed nude in his studio, recast the art of portraiture and offered a new approach to figurative art, died on Wednesday night at his home in London. He was 88. aqui

quinta-feira, 30 de junho de 2011

...eu fui...sessão literária com antónio lobo antunes... FLAD - 28 junho...

...eu fui... josé eduardo agualusa - a língua portuguesa no mundo. 28 junho - teatro são luiz...


"O projecto Disquiet traz a Lisboa, entre 19 de Junho e 1 de Julho, um grupo de 50 jovens escritores e 10 escritores consagrados americanos para uma Universidade de Verão, em que terão ocasião de se encontrar com personalidades da cultura lusófona, nomeadamente escritores. A ideia é proporcionar ao grupo de escritores norte-americanos – publicados ou apenas amadores – um contacto tão abrangente quanto possível com aspectos vários da cultura portuguesa, destacando, naturalmente, o literário, dando-lhes assim a oportunidade de conviver com escritores e poetas lusófonos de várias gerações, instituições ligadas à cultura portuguesa, etc."

sábado, 25 de junho de 2011

...tomislav ivic... o homem de quem todos gostavam...

...aldeia do dominguizo homenageia farrapeiros, pioneiros da reciclagem...

"A aldeia de Dominguizo, no concelho da Covilhã, vai homenagear com uma feira de a 26 de Junho os farrapeiros, pioneiros da reciclagem, mas que a faziam como forma de subsistência.
Na aldeia vivia o maior núcleo de negociadores de resíduos, que recolhiam restos de tecidos, metais e outras matérias, que depois vendiam «às fábricas da Covilhã e outras da região Centro», explica José Matos, um dos organizadores do certame.

A actividade teve o ponto alto na segunda metade do século passado e desapareceu «quase por completo» há cerca de dez anos.
Quem vive na aldeia, hoje colecciona histórias de antepassados que andavam de terra em terra em busca dos resíduos e foram «os primeiros a exercer a actividade de reciclagem».
José Matos reconhece que na altura «ainda não havia preocupações ambientais, o objectivo era a subsistência, mas já a faziam [a reciclagem] sem saber».
A Festa dos Farrapeiros contará com animação musical, tasquinhas e um espaço museológico que recorda a tradição daquelas figuras.
Em estudo está a possibilidade de criação de um espaço museológico sobre a actividade, admite José Matos."

segunda-feira, 20 de junho de 2011

...o contributo dos Independentes na diversidade musical...

Num momento de profunda alteração dos cenários com que a indústria musical se habituou a contar, da qual a vertiginosa queda das vendas de discos é talvez a consequência mais visível, florescem, no entanto, as editoras independentes, ou para sermos mais correctos, as micro-editoras. Contraditório? Nem por isso: os independentes sempre trabalharam com mercados reduzidos, de certo modo nichos de melómanos, e especializaram-se na diversidade, no tipo de música que por não terem ou ainda não terem um grande público não despertam o interesse comercial das majors. Assim, a crise das vendas não as afectaram, ou afectaram-nas pouco, porque o seu público-alvo é um público que gosta do disco objecto, porque souberam adaptar os preços dos discos ao reduzido poder de compra das pessoas, porque as suas estruturas empresariais são, por natureza e necessidade, ligeiras e flexíveis – portanto com custos reduzidos e com capacidade de decisão e de adaptação imediata –, porque viram na net e no download gratuito, contrariamente ao horror alardeado pela indústria middle of the road, uma rara oportunidade para ultrapassar a sua maior fraqueza, que é a capacidade de promoção, e um óptimo e barato instrumento para chegar a outros mercados e a um público mais vasto… Não dá para alimentar a voragem de lucro dos accionistas das multinacionais, mas dá para sustentar o gosto em fazer edições cuidadas de músicas que, de outra forma, não ficariam certamente registadas nem acessíveis ao público, com toda a pobreza estética que isso significaria – e só por curiosidade, mas não por acaso, repare-se nos habituais balanços de final do ano a que os media se entregam para eleger os melhores discos e onde os lugares cimeiros têm sido ocupados maioritariamente, desde o princípio do século, por edições independentes... E assim continuará enquanto continuar o desinvestimento acentuado das multinacionais em todos os segmentos que não garantam o crossover comercial evidente, porque isso abre mais nichos para serem trabalhados por micro-editoras e possibilita que mais independentes entrem no mercado." Adolfo luxúria Canibal aqui

quarta-feira, 15 de junho de 2011

...que usaban ustedes en la escuela?...

...palácio da lua - paul auster...


Foi no Verão em que o Homem caminhou pela primeira vez na Lua. Eu era muito jovem nessa altura, mas não acreditava que viesse a haver um futuro. Queria viver perigosamente, pegar em mim e levar-me tão longe quanto possível e, depois, quando lá chegasse, logo veria o que me aconteceria.
Assim começa a inesquecível narrativa de Marco Stanley Fogg – órfão e aventureiro por natureza. Palácio da Lua é a sua história – um romance que atravessa três gerações, desde o início do século XX à chegada à Lua, e serpenteia entre os desfiladeiros de betão de Manhattan e a beleza cruel do Oeste Americano.
Como Marco Polo rumo ao Extremo Oriente e Phileas Fogg nos seus 80 dias à descoberta do mundo, Marco enceta uma viagem de etapas essenciais marcada pela exultação e pela tragédia, por estranhas coincidências e maravilhosos rasgos de lirismo e erudição.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

..césar e o rubicão...

superemos  o experimental na relação
prematuro inflamar da simetria

 superemos a beleza do todo do poeta
prematura sedução do teorema

superemos o útero na superstição
caprichoso refúgio dos ídolos
superemos o choque na comédia
caprichoso inventário da vontade

superemos a erecção na dinastia
manifesta fundação do engenho

superemos o tempo no lapso
manifesto prisioneiro da sombra

superemos a desordem no recinto
escorado repouso de preconceito

superemos a categoria da destruição
escorada ilusão na pronúncia

superemos a consumação no acto
fracassada detenção na tradição

superemos o venal no encantamento
fracassada pilhagem da atitude


 ana monteiro

sábado, 28 de maio de 2011

...sociedade espectáculo ... guy debord4...

....comunista miguel viegas critica BE por ter votado empréstimo à grécia...

"Num período de aparentes tréguas entre Bloco de Esquerda e PCP, o Avante publica um artigo de opinião assinado por Miguel Viegas, cabeça de lista da CDU por Aveiro, lembrando o voto favorável do BE ao empréstimo à Grécia. Miguel Viegas critica também a posição do Bloco no processo de nacionalização do BPN.

Miguel Viegas (*)
«É importante que haja uma ajuda à Grécia e que ajude realmente a economia grega e que não contribua para a estrangular», defendia o dirigente bloquista Francisco Louçã aquando da discussão do empréstimo à Grécia, faz agora um ano, nas páginas do Sol. Relembre-se que nesta altura os ministros das Finanças da Zona Euro concordaram em accionar o mecanismo de apoio à Grécia num montante global de 110 mil milhões de euros, sendo os países da Zona Euro responsáveis por 80 mil milhões desse montante e o FMI pelos restantes 30 mil milhões. Com esta operação, Portugal endividou-se em 2064 milhões de euros.
Na discussão da concessão desta «ajuda» na Assembleia da República, PS, PSD, CDS e BE votaram favoravelmente, viabilizando esta agressão ao povo grego em benefício da banca alemã e francesa, como de resto se veio a verificar. «Votaremos a favor desta proposta por uma única razão e mais nenhuma: recusar este empréstimo seria, nas actuais circunstâncias, impor a bancarrota à Grécia, e esta seria a pior opção», declamava então a deputada bloquista Cecília Honório. Para ajudar à festa, José Soeiro justificava a postura do grupo parlamentar do BE dizendo que o empréstimo foi aprovado com o objectivo de «evitar a bancarrota num país massacrado pelas políticas liberais e vítima de um ataque especulativo dos mercados financeiros e das agências de rating».
Vale a pena também contrapor as sábias palavras do deputado do PCP Bernardino Soares neste mesmo debate, em Maio de 2010: «PCP está solidário com o povo grego e recusa este empréstimo à Grécia. As condições que estão subjacentes aos empréstimos à Grécia significam congelamento de salários e pensões, corte de subsídio de férias e Natal, redução brutal do investimento público, encerramento de serviços públicos e privatizações. A União Europeia deve ajudar a Grécia. Mas o que está aqui em causa não é uma ajuda, é uma condenação ao atraso, à dependência, à crise social.» Se somarmos a este empréstimo ruinoso para «salvar» a Grécia da bancarrota os 1,8 mil milhões que resultaram da nacionalização dos prejuízos do BPN aprovados por PS e BE inviabilizando a proposta do PCP em nacionalizar a totalidade da Sociedade Lusa de Negócios, detentora de 100% do capital do BPN e principal responsável por todo o desfalque, são já quase 4 mil milhões de euros «deitados ao mar», com o selo de garantia da chamada Esquerda de Confiança.
A mesma esquerda que está contra a intervenção da troika FMI/BCE/UE em Portugal mas que apoiou esta mesma intervenção na Grécia há precisamente um ano. Com esta Esquerda de Confiança pode de facto o grande capital dormir descansado, confiando que dali não virá nenhum mal para os seus negócios."

segunda-feira, 23 de maio de 2011

...esta esquerda interioricída...

Os capelões-mor, dos dois partidos da reivindicada esquerda portuguesa, que, no jogo do faz-de-conta, tanto abrem aquelas bocarras para defender o interior, numa atitude hipocritamente correcta, na sua transumância sazonal ( o tempo das eleições) não pisam a terra que não dá trigo - o interior não lhes dá votos, não lhes dá tachos, não lhes dá deputados e não lhes dá assessores...
Os capelões-mor, dos dois partidos da auto-reivindicada esquerda portuguesa, que, no jogo do faz-de-conta, tanto abrem aquelas bocarras para defender o interior, desfilam na passadeira do arco-íris em direcção a quem lhes pinte o pote... pois, a olaria é sempre outra:)
Estes xamãs do plistocénico, desejosos de ocupar um qualquer trono vacante,  de visão e torção dicotómica, ornamentam e rematam os seus faustos dicursos com o trágico destino dos que para quem eles querem sempre trágico, pois é  a nossa tragédia, verdadeira ou mistificada, que os mantém vivos no verbo . Bem me segredou, um dia, o, agora, deputado pedro soares, "o Bloco não quer saber do interior, convém apenas que se criem por lá uma dinamicazitas" e pouco ruído - acrescento eu. O mesmo deputado que desvalorizou a petição Petição Contra o Encerramento do Aeródromo Municipal da Covilhã, vejam lá com que argumento: "E tu achas bem colocar em causa 500 postos de trabalho por causa de uma elite de 1/2 dúzia de gajos que querem ter um avião à porta de casa?"
Como podemos ver no mapa, a trajectória do interior não lhes é gulosa nem ávida. Confesso, porém, que a mim me fazem cá tanta falta como a fome... longe-e-largo!!!  adaptando palavras de um cartaz que vi na manifestação de madrid: "o sonhos do interior não querem caber nas urnas destes filhos-da-puta"... "as necessidades dos interior não cabem nas propostas, que estas nulidades mentais não têm".
Dizem eles, na surdina, que só se deslocam, aos lugares onde a história não se produz, com a garantia de cinquenta pares de ouvidos para os escutar e cinquenta pares de joelhos para ajoelhar...o interior nisto é sadio, não responde a estes falsos rebates de onomatopaicos zunidos jacobinos...
Arre-porra!!! Este povo ainda há-de ser soberano!!!
Quem sabe, desta vez, este povo não confunda os protagonista de "querelas de quintal com os verdadeiros revolucionários"...
Dia 5 não voto!!! Não vou legitimar um sistema que se orgulha de desprezar e excluír quem não está disposto a alinhar e a se bordelizar!!! 
"alguém que se contenta com pouco, também não vale muito..." é que  a "vida pode e deve mudar"!!! 
ana monteiro

...sociedade espectáculo... guy debord 3...

quarta-feira, 18 de maio de 2011

...quinze quilos de prata e mármore... dedicada a todos os que ficaram no caminho...

A EUROPA É NOSSA
A TAÇA VOLTOU A SER NOSSA

...feira medieval escola secundária frei heitor pinto...

No próximo dia 20 de Maio, decorrerá na Escola Secundária Frei Heitor Pinto, uma Feira Medieval. Esta actividade é dinamizada por um grupo de alunos do 12º D, no âmbito da disciplina de Área de Projecto.
Ao longo de todo o dia, nos átrios da Escola, haverá, entre outras actividades, a actuação de elementos do grupo de teatro, orquestras, jogos tradicionais. Poderá ainda apreciar as barracas de venda, comprar diversos artigos e degustar especialidades gastronómicas da época medieval.
Aguardamos a sua visita

sábado, 14 de maio de 2011

...de cu no mocho...

...os nossos dias estão a ser marcados por um clima de efervescência, quase comparável a um qualquer pós guerra, num qualquer canto do mundo... por um lado bloquistas da casa grande*, apêndices na dialéctica governativa, esperneiam com a  "piação"* dos nossos jornalistas, a quem acusam de se roçarem demasiado à direita, o que os impede de impôr a sua revolução, bloqueando as suas esperanças revolucionárias,  sublimando, assim, conscientemente ou não  " a oposição trágica da sua subjectividade para o resto do mundo"... por outro lado o presidente do benfica cada vez que se lhe assoma o badelo* esperneia e investe contra os remexidos * dos àrbitros, qual dom quixote, em versão mourisca grotesca... e por falar em dom quixote... o  presidente da nossa câmara, a da covilhã, investiu contra os desalmados piadores* da revista visão... não lembra ao rabudo dar notícia do campino passado do nosso galhardo fidalgo do pelourinho ...destratando-o quase ao nível famoso do "moço das mulas" das histórias de cervantes...   
...que se açoitem esses piadores* verdugos, não se trata assim um puro sangue da alta escola equestre escalabitana... e... presidente não se apoquente que se eles "ladram é sinal que cavalgamos"...
...chiça é que nos tempos que correm um gaijo começa a ter  dificuldade em franquear o orifício que lhe permita libertar um feijão-frade que resista à tritura do aparelho digestivo...
ana monteiro

*  vocábulos de minderico 

...situacionismo...

"Toda pessoa razoavelmente consciente de nosso tempo já se deu conta do fato óbvio de que a arte não pode mais ser considerada como uma atividade superior, ou mesmo como uma atividade compensatória para a qual alguém pode honradamente se devotar. A razão para tal deterioração é com certeza a emergência de forças produtivas que necessitam de outras relações de produção e de uma nova prática de vida. Na fase de guerra civil na qual estamos envolvidos, e em estreita conexão com a orientação que estamos descobrindo para certas atividades superiores que virão, nós acreditamos que todos os meios de expressão vão convergir num movimento geral de propaganda e precisam englobar todos os aspectos perpetuamente interativos da realidade social.
Existem várias opiniões conflitantes sobre as formas e mesmo sobre a própria natureza da propaganda educativa, opiniões que geralmente refletem uma ou outra variedade de política reformista atualmente em voga. É suficiente dizer que, do nosso ponto de vista, as premissas para a revolução, tanto no plano cultural quanto no estritamente político, não só estão maduras, mas já começaram a apodrecer. Não estão apenas retornando a um passado que é reacionário; mesmo os objetivos culturais «modernos» são em última análise reacionários, já que dependem de formulações ideológicas de uma sociedade arcaica que prolongou sua agonia de morte até o presente. A única tática historicamente justificada é a inovação extremista.
A herança literária e artística da humanidade deve ser usada para objetivos propagandísticos de guerrilha. É, evidentemente, necessário ir além do mero escândalo. Já que a oposição à noção burguesa de arte e gênio artístico se tornou há muito um sapato velho, o bigode que Duchamp pintou na Mona Lisa não é mais interessante do que a própria Mona Lisa sem bigode. Nós precisamos empurrar este processo ao ponto de negar a negação. Bertold Brecht, revelando numa entrevista recente no France-Observateur que ele faz cortes nos clássicos do teatro de forma a fazer as performances mais educativas, está muito mais perto da orientação revolucionária que estamos propondo do que Duchamp. Entretanto, devemos notar que, no caso de Brecht, estas saudáveis alterações estão mediocremente limitadas por seu desafortunado respeito à cultura, da forma como é definida pela classe dominante - esse mesmo respeito, ensinado tanto nos jornais dos partidos operários quanto nas escolas primárias da burguesia, e que leva até os distritos operários mais roxos de Paris a sempre preferir o El Cid [um filme de Hollywood] à Mãe Coragem [uma peça de Brecht].
Na verdade é necessário eliminar todos os vestígios da noção de propriedade pessoal nesta área. A aparição de novas necessidades torna as obras «inspiradas» anteriores obsoletas. Elas se tornam obstáculos, vícios perigosos. Não se trata de discutir se nós gostamos ou não delas. Nós precisamos superá-las.
Quaisquer elementos, não importa de onde forem tirados, podem ser usados para fazer novas combinações. As descobertas da poesia moderna a respeito da estrutura analógica das imagens demonstra que quando dois objetos são unidos, não importa quão distantes os seus contextos originais, uma relação é sempre formada. Se restringir a um arranjo pessoal de palavras é mera convenção. A interferência mútua de dois mundos sensíveis, ou a união de duas expressões independentes, supera os elementos originais e produz uma organização sintética de grande eficácia. Qualquer coisa pode ser usada.
Está implícito que não há limite para corrigir uma obra ou para integrar diversos fragmentos de trabalhos obsoletos em um novo; pode-se alterar o significado desses fragmentos de qualquer forma apropriada, deixando aos imbecis a sua escravidão às referências e às «citações».
Tais métodos parodísticos foram frequentemente usados para obter efeitos cômicos. Mas tal humor é o resultado de contradições dentro de uma condição cuja existência não é posta em questão. Já que o mundo da literatura nos parece quase tão distante quanto a idade da pedra, tais contradições não nos fazem rir. Torna-se necessário conceber então um estágio paródico-sério no qual a acumulação de elementos desviados, longe de procurar despertar indignação ou riso ao aludir a um trabalho original, expressará nossa indiferença em relação a um original insignificante e esquecido, e que procura proporcionar uma espécie de sublimação.
Lautréamont avançou tanto nessa direção que ele é ainda parcialmente mal entendido mesmo pelos seus mais ostentosos admiradores. A despeito de ser óbvio que ele aplicou esse método à linguagem teórica em Poésies - onde Lautréamont (baseando-se particularmente nas máximas de Pascal e Vauvenargues) esforça-se para reduzir o argumento, através de sucessivas concentrações, a simples máximas - um certo Viroux causou bastante sensação três ou quatro anos atrás ao demonstrar conclusivamente que Maldoror é um vasto desvio de Buffon e de outras obras de história natural, além de outras coisas. O fato de que os prosaístas do Figaro, como o próprio Viroux, foram capazes de vê-lo como uma justificativa para denegrir Lautréamont, e de que outros acreditaram que deveriam defendê-lo exaltando sua insolência, apenas testemunha a senilidade destes dois bandos de caquéticos em combate cortês. Um slogan como «O plágio é necessário, o progresso o pressupõe» é ainda pouco compreendido, e pelas mesmas razões, como na frase famosa sobre a poesia que «deve ser obra de todos».
Fora o trabalho de Lautréamont - cujo aparecimento tão à frente de seu tempo o preservou em larga medida de uma crítica precisa - as tendências rumo ao desvio observadas na expressão contemporânea são na maior parte inconscientes ou acidentais. É na indústria do marketing, mais do que na produção estética decadente, que podemos encontrar os melhores exemplos.
Podemos começar definindo duas categorias principais de elementos desviados, sem considerar se, ao serem unidos, os originais passam por algum tipo de correção. Estes são os desvios menores e os desvios enganadores.
Desvios menores são os desvios de um elemento que não tem importância própria, e que portanto toma todo seu significado do novo contexto onde foi colocado. Por exemplo, um resumo informativo, uma frase neutra, uma foto lugar-comum.
Desvios enganadores, também chamados desvios com proposta premonitória, são por outro lado o desvio de um elemento intrínsecamente significativo, o qual toma um dimensão diferente a partir do novo contexto. Um slogan de Saint-Just, por exemplo, ou uma sequência cinematográfica de Eisenstein.
Obras extensivamente desviadas serão portanto geralmente compostas de uma ou mais séries de desvios enganadores e menores.
Várias normas de utilização do desvio podem agora ser fomuladas.
O elemento que contribui mais decisivamente para a impressão geral é o elemento mais distante, e não os elementos que determinam diretamente a natureza da impressão. Por exemplo, num metagrafo [poema-colagem] relacionado à guerra civil espanhola, a frase com o sentido revolucionário mais claro é um fragmento de um comercial de batom: «Lábios bonitos são vermelhos». Em outro metagrafo, («A Morte de J.H.») 125 anúncios classificados de bares à venda expressam um suicídio mais dramaticamente do que as reportagens de jornal que o noticiaram.
As distorções introduzidas nos elementos desviados devem ser as mais simples possíveis, já que o impacto de um desvio é diretamente proporcional à memória consciente ou semiconsciente dos contextos originais dos elementos. Isto é bem sabido. Permita-nos apenas notar que se esta dependência da memória implica que deve-se determinar o público-alvo antes de planejar-se um desvio, isto é apenas um caso particular de uma norma geral que governa não só o desvio como também outras formas de ação neste mundo. A idéia da expressão pura e absoluta está morta; ela sobrevive temporariamente em forma de paródia apenas enquanto o nosso inimigo sobreviver.
O desvio se torna menos efetivo à medida que se aproxima de uma resposta racional. Este é o caso de um grande número de máximas alteradas de Lautréamont. Quanto mais o caráter racional da resposta é aparente, mais difícil fica distinguí-lo de uma réplica ordinária, que também usa as próprias palavras do oponente para atacá-lo. Foi por esta razão que objetamos o projeto de alguns de nossos camaradas que propuseram o desvio de um cartaz anti-soviético da organização fascista «Paz e liberdade» - a qual proclamou, entre imagens de bandeiras das potências ocidentais, «A união faz a força» - adicionando a isto uma folha menor com a frase «e a coalizão faz a guerra».
O desvio pela simples inversão é sempre o mais direto e o menos efetivo. Portanto, a missa negra reage contra a construção de um ambiente baseado numa metafísica dada, construindo um ambiente dentro da mesma lógica, que simplesmente inverte - e portanto simultaneamente conserva - os valores dessa metafísica. Entretanto, tais inversões podem reter um certo aspecto progressista. Por exemplo, Clemenceau [chamado «O Tigre»] pode ser referido como «O Tigre chamado Clemenceau».
Das quatro normas propostas, a primeira é essencial e universalmente aplicável. As outras três são praticamente aplicáveis apenas a elementos desviados enganosamente.
As primeiras consequências visíveis do uso amplo do desvio, além do seu poder intrínseco de propaganda, será o ressurgimento de uma multidão de livros ruins, e portanto a extensa (e não almejada) participação de seus autores desconhecidos; uma transformação crescente de frases ou obras de arte que por acaso estejam na moda; e sobretudo uma facilidade de produção que ultrapassará de longe em quantidade, variedade e qualidade a escrita automática que nos entediou por tanto tempo.
O desvio não leva apenas à descoberta de aspectos novos do talento; somando-se a isso, e se chocando contra todas as convenções sociais e legais, não poderá falhar em se tornar uma arma cultural a serviço da verdadeira luta de classes. Os seus produtos baratos são a artilharia pesada que derruba todas as Muralhas da China do conhecimento. É um verdadeiro meio de educação artística do proletariado, o primeiro passo em direção a um comunismo literário.
Idéias e criações no reino do desvio podem ser multiplicadas à vontade. Por hora nos limitaremos a mostrar algumas poucas possibilidades concretas em vários setores atuais de comunicação - ficando claro que esses setores separados só têm significado em relação às tecnologias atuais, e tendem a se fundir em sínteses superiores com o avanço dessas tecnologias.
À excessão dos vários usos diretos de frases desviadas em cartazes, discos e programas de rádio, as duas principais aplicações da prosa desviada são os escritos metagráficos e, em menor grau, a perversão astuta do formato clássico dos quadrinhos.
Não há muito futuro no desvio de quadrinhos completos, mas durante a fase de transição talvez haja um certo número de realizações deste tipo.Tais desvios têm a vantagem de ser acompanhados de ilustrações cujas relações com o texto não são imediatamente óbvias. A despeito de inegáveis dificuldades, nós acreditamos que seja possível produzir um desvio psicogeográfico instrutivo da Consuelo de George Sand, que assim desfigurado poderia ser relançado no mercado literário disfarçado sob um título inócuo como «A Vida no Subúrbio», ou mesmo com um título também desviado, como «A Patrulha Perdida». (Seria uma boa idéia reutilizar dessa maneira vários títulos de velhos filmes deteriorados dos quais nada resta, ou de filmes que continuam a assassinar as mentes dos jovens nos cinemas).
A escrita metagráfica, não importa quão obsoleto seja o seu suporte plástico, apresenta oportunidades muito mais ricas para o desvio da prosa, bem como de outros objetos ou imagens. Pode-se ter uma uma idéia disto através do projeto, concebido em 1951 mas eventualmente abandonado por falta de recursos financeiros suficientes, que propunha uma máquina de fliperama, disposta de tal forma que o jogo de luzes e as trajetórias mais ou menos esperadas das bolas formariam uma composição metagráfica-espacial intitulada Sensações Térmicas e Desejos de Pessoas Passando Pelos Portões do Museu Cluny Por Volta de Uma Hora Após o Pôr-do-sol em Novembro. Desde então nós nos demos conta de que uma proposta analítica-situacionista não pode avançar cientificamente através de semelhantes empreitadas. No entanto, os meios permanecem adequados para objetivos menos ambiciosos.
É obviamente no reino do cinema que o desvio pode alcançar a sua maior eficácia e, para os que se preocupam com este aspecto, a sua maior beleza.
Os poderes do filme são tão amplos, e a ausência de coordenação de tais poderes é tão evidente, que virtualmente qualquer filme que está acima da miserável média pode fornecer material para polêmicas infindáveis entre expectadores ou críticos profissionais. Apenas o conformismo dessas pessoas as impede de descobrir encantos igualmente sedutores e defeitos igualmente óbvios mesmo nos piores filmes. Para dissecar essa absurda confusão de valores, podemos observar que Birth of a Nation [O Nascimento de uma Nação, um filme épico mudo sobre a história dos Estados Unidos] de Griffith é um dos filmes mais importantes da história do cinema, graças às inovações que introduziu. Por outro lado, é um filme racista e portanto não merece ser exibido em sua presente forma. Mas sua proibição total poderia ser tida como equívoco do ponto de vista secundário, mas potencialmente mais importante, do cinema. Seria melhor desviá-lo por completo, sem necessariamente alterar mesmo a montagem, adicionando uma trilha sonora que fizesse uma poderosa denúncia dos horrores da guerra imperialista e das atividades do Ku Klux Klan, que continuam até o presente dia.
Tal desvio - de fato bastante moderado - é em última análise nada mais do que o equivalente moral da restauração das pinturas antigas nos museus. Mas a maioria dos filmes só merecem ser cortados para compor outros trabalhos. Esta reconversão de sequências preexistentes será obviamente acompanhada de outros elementos, musicais ou pictóricos, bem como históricos. Enquanto a história continua sendo reescrita pelo cinema, até o presente momento, à maneira das recriações burlescas de Sacha Guitry, poderíamos ter Robespierre dizendo logo antes de sua execução: «A despeito de tantos julgamentos, minha experiência e a grandeza de minha tarefa me convencem de que tudo está bem.» Neste caso a reutilização apropriada de uma tragédia grega nos permite exaltar Robespierre, e por outro lado podemos imaginar uma sequência de estilo neo-realista, no caixa de um bar de estrada, com um caminhoneiro dizendo sériamente a outro: «A ética era préviamente confinada nos livros dos filósofos; nós a introduzimos na governança das nações.» Pode-se ver que esta justaposição ilumina a idéia de Maximilien, a idéia da ditadura do proletariado.
A luz do desvio se propaga em linha reta. À medida que a nova arquitetura parece ter começado com um estágio barroco experimental, o complexo arquitetônico - o qual é concebido como a costrução de um ambiente dinâmico relacionado a estilos de comportamento - provavelmente desviarão formas arquiteturais existentes, e de qualquer maneira farão uso plástico e emocional de todos os tipos de objetos desviados: a organização cuidadosa de coisas tais como guindastes ou andaimes que substituem uma tradição escultural falecida. Isto é chocante apenas para os admiradores mais fanáticos dos jardins de estilo francês. Conta-se que na sua velhice D'Annunzio, esse porco pró-fascista, tinha a proa de um navio torpedeiro em seu jardim. Deixando de lado os seus motivos patrióticos, a idéia de tal monumento não deixa de ter seu charme.
Se o desvio fosse extendido às realizações urbanísticas, poucos ficariam insensíveis à reconstrução exata de toda uma vizinhança de uma cidade em outra. A vida é sempre um labirinto: desviá-la dessa maneira a tornaria verdadeiramente bela.
Os próprios títulos, como já vimos, são elementos básicos do desvio. Isto advém de duas observações gerais: que todos os títulos são intercambiáveis e que eles têm uma importância decisiva em vários gêneros. Todas as histórias de detetive da série «Noir» são extremamente semelhantes, e mudar contínuamente os títulos é suficiente para manter a audiência. Na música o título sempre exerce uma grande influência, mas sua escolha é arbitrária. Portanto não seria uma má idéia fazer uma correção final ao título da «Sinfonia Eroica» mudando-a, por exemplo, para «Sinfonia Lênin».
O título contribui fortemente para o desvio de um trabalho, mas existe uma inevitável ação contrária do trabalho no título. Portanto podemos fazer vasto uso de títulos específicos tirados de publicações científicas («Biologia Costeira de Mares Temperados») ou militares («Pequenas Unidades de Infantaria em Combate Noturno»), ou mesmo de muitas frases achadas em livros infantis ilustrados («Paisagens Maravilhosas Acenam aos Viajantes»).
Finalmente, faremos breve menção a alguns aspectos do que chamamos de ultradesvio, ou seja, as tendências para a o funcionamento do desvio na vida social quotidiana. Gestos e palavras podem tomar outros sentidos, como de fato ocorreu durante toda a história, por várias razões práticas. As sociedades secretas da China antiga faziam uso de sinais de reconhecimento muito sutis, associados às boas maneiras (a forma de dispôr xícaras; de beber; citações poéticas em pontos pré-combinados). A necessidade de uma linguagem secreta, de senhas, é inseparável de uma tendência à brincadeira. No final das contas, qualquer sinal ou palavra é passível de ser convertido em outra coisa, e até no seu oposto. Os insurgentes realistas de Vendée, pelo fato de usarem a imagem nojenta do Sagrado Coração de Jesus, eram chamados de Exército Vermelho. No estreito domínio do vocabulário da guerra política esta expressão foi completamente desviada em menos de um século.
Linguagem à parte, é possível usar os mesmos métodos para desviar roupas, com todas suas fortes conotações emocionais. Aqui podemos encontrar novamente a noção de disfarce intimamente ligada à brincadeira. Finalmente, quando chegarmos ao momento de construir situações -- o objetivo último de toda nossa atividade -- todos serão livres para desviar situações inteiras através de mudanças deliberadas desta ou daquela condição determinante.
Os métodos aqui brevemente descritos não são apresentados como de autoria nossa, mas como uma prática bastante difundida a qual procuramos sistematizar.
Em si, a teoria do desvio pouco nos interessa. Mas parece-nos que ela está ligada a quase todos os aspectos construtivos do período de transição pré-situacionista. Portanto, julgamos que seu enriquecimento através da prática seja necessário.
Nós deixaremos o desenvolvimento dessas teses para mais tarde.
Guy Débord e Gil J. Wolman, 1956