sábado, 1 de janeiro de 2011

...manuel, o alegre...

" Conheço este problema pessoalmente. Estava em Luanda, quando Alegre se pirou. Mais tarde, quando entrei prá "guerra" o meu Batalhão foi colocado em Nóqui, lá em cima, encostado ao Zaire, junto à fronteira com Matadi. Nessa
região ouvia-se através dos famosos rádios portáteis Hitachi, com uma boa onda média, a voz de Matadi e a voz da Argélia, emissores criados por desertores que, através de infiltrados nas forças armadas, denunciavam as n/operações. Muitas das emboscadas que sofremos resultaram da traição desses "grandes filhos da fruta ". Uma das vozes que se ouvia era a desse pulha, Pateta Alegre. Lembro-me que 48 horas após se ter instalado um posto de observação, um grupo de combate, um canhão, um radar no cimo do morro de Noqui, donde nós observávamos toda a movimentação de aproximadamente, 2.000 "turras" concentrados numa sanzala no outro lado da fronteira, ouviu-se a voz do Alegre a denunciar a nossa posição. Andámos a levar porrada na estrada entre S.Salvador e Nóqui durante mais de 4 meses.
Numa das viagens sofremos 9 ataques. Um dia, em Nóqui, junto ao Rio, onde se situava o nosso aquartelamento, o então Tenente-Coronel Isaltino, mandou tocar a formar. Formou-se o Batalhão e o corneteiro tocou a sentido, fez-se silêncio chegou o Tem.Coronel e disse: o furriel Marta (mulato) dê um passo em frente. O sacana era o informador. Fazia-o através dum preto que era vendedor das célebres colchas congolesas, em Nóqui. Nesta guerra a Pide teve um papel muito importante. Informávamo-nos dos movimentos desses traidores. Bem.. não sei se estás a ver. o cabrão não foi linchado porque foi imediatamente evacuado para Luanda. Cerca de 2 anos depois, estava eu ainda na guerra ouvi a voz deste traidor nas rádio Maatadí. Tinha fugido das cadeias de Luanda. Sofri no corpo os efeitos da atitude desses traidores."

Paulo Chamorra"

(Braganza Mothers)

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